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Religião

Luciano Gruppi
 

É típica de Gramsci a atenção dispensada à cultura popular, ao costume difuso, ao folclore. Ao mesmo tempo, era grande sua atenção - como é natural no caso de um político - às instituições do Estado e da sociedade, e, portanto, à Igreja Católica.

Diante do fenômeno religioso, Gramsci coloca-se segundo sua concepção marxista, segundo uma visão imanentista. A religião é um fenômeno histórico e cultural, profundamente motivado, rico de significado, mas não é nem pode ser a expressão de uma transcendência, que se nega. "A filosofia é a crítica e a superação da religião e do senso comum e, nesse sentido, coincide com o ‘bom senso’", com uma visão crítica do mundo (QC, p. 1.378). A religião é uma tentativa de conciliar "sob forma mitológica" as contradições reais da vida histórica (QC, 1.488).

Posto isso, interessa muito mais a Gramsci ver a vida concreta das instituições e da fé religiosa. Na vida cultural italiana - ele observa -, existe uma distância entre os intelectuais e os "simples". Nossa cultura não adquiriu um caráter nacional-popular. Em vez disso, como realizar uma efetiva unidade entre intelectuais e simples? Não o pode fazer a filosofia idealista (de Croce e de Gentile), que propõe uma concepção do mundo no plano dos intelectuais, mas não do povo. Tampouco o fez ou pode fazê-lo a Igreja Católica, a qual se preocupou em evitar fraturas entre a fé religiosa dos "simples" e a dos intelectuais, mas sempre agiu em dois planos, de modo a manter os "simples" no seu próprio plano. Só o partido da classe operária pode, dirigindo e organizando os trabalhadores, promover uma reforma intelectual e moral, que tenha condições de reunir intelectuais e simples na formação de uma nova cultura.

Compreende-se, então, a distância de Gramsci em relação ao anticlericalismo superficial dos socialistas do seu tempo. Assim como o Estado liberal soube encontrar um equilíbrio na sua relação com a Igreja Católica, também deve encontrá-lo o Estado socialista.

Significativa é a atenção que Gramsci dirige imediatamente ao Partido Popular. Este partido, que nasce em 1919 sob a direção de Dom Luigi Sturzo, foi por ele saudado como um evento de grande alcance histórico. Ele assinalava a entrada das massas populares católicas, sobretudo os camponeses, na vida política; representava uma ampliação substancial da democracia.

A atenção dirigida às forças populares católicas é um traço essencial do modo como Gramsci formula o problema da aliança da classe operária com os camponeses. Na Itália, a questão camponesa apresenta-se - ele diz - como questão meridional e como questão vaticana. Ou seja, não só como necessidade de uma relação correta com a Igreja Católica, mas de uma relação com as massas camponesas, que vivem sob a influência da Igreja; uma relação que leve em conta sua cultura, o modo como elas vivem suas reivindicações e a própria ligação com o movimento operário.

Inicia-se com Gramsci a atenção dos comunistas voltada para a relação com o mundo e com as forças populares católicas, que assinala toda a história do PCI.



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