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Pizzaria Brasil: as charges de Cláudio de Oliveira

Humberto Yashima & Heródoto Barbeiro - Fevereiro 2012
 

Cláudio de Oliveira. Pizzaria Brasil: da abertura política à reeleição de Lula. São Paulo: Devir Livraria, 2007. 144p. 

Uma aula bem-humorada de política (Humberto Yashima)

Este livro, além de reunir 30 anos de trabalhos do chargista Cláudio de Oliveira, dá uma verdadeira aula de história sociopolítica e econômica do Brasil. Os títulos de cada capítulo resumem muito bem o conteúdo: "Do golpe à distensão" (1964-1978 – Os anos Castelo a Geisel), "Da anistia à recessão" (1979-1985 – Os anos Figueiredo), "Das diretas à hiperinflação" (1985-1989 – Os anos Sarney), "Do confisco ao impeachment" (1990-1992 – Os anos Collor), "Da inflação ao Plano Real" (1992-1994 – Os anos Itamar), "Da queda da inflação ao FMI" (1995-2002 – Os anos FHC) e "De Lula Lá ao ‘mensalão’" (2003-2007 – Os anos Lula).

O autor, também jornalista, escreveu textos sobre momentos que ficaram marcados na memória de quem vivenciou esses (ou pelo menos alguns desses) mandatos presidenciais. Verdadeiros relatos do que aconteceu na história recente brasileira que são completados com as charges de um artista que apresentou uma impressionante evolução em seu traço, como pode ser constatado na comparação entre os primeiros e os últimos desenhos.

Pizzaria Brasil começa com uma lista de abreviaturas com o significado de siglas como AI-5, CUT, DOI-Codi, PDS, SNI e várias outras, seguida de um prefácio de Chico Caruso e um texto de apresentação do autor. Começa então a "viagem no tempo" que relembra fatos como a ditatura, os anos de chumbo, Delfim Netto e seu "milagre econômico", a campanha das Diretas Já, o Plano Cruzado, o impeachment de Collor, FHC e o plano Real, a eleição de Lula, o mensalão e a reeleição de Lula.

Como as trapalhadas políticas sempre foram uma grande fonte de inspiração para os cartunistas, tem havido matéria-prima de sobra nos últimos tempos. Mas antigamente a coisa não era tão diferente assim: há 30 anos Cláudio cria suas charges para demonstrar de forma bem humorada a sua indignação com situações absurdas que aconteciam e ainda acontecem no Brasil. 

No país em que virou rotina tudo "acabar em pizza", é ótimo saber que a história política do Brasil está registrada em obras dessa qualidade. Recomendável para todos os que quiserem "ficar por dentro" da política e se divertir ao mesmo tempo. 

Bom humor na recente história do Brasil (Heródoto Barbeiro)

Li o livro do Cláudio de Oliveira de uma única golfada. Dei muita risada, aprendi mais um pouco sobre a história recente do Brasil e de como tratar assuntos tão sérios de forma tão descontraída. O livro é divido em textos e charges que contam de forma inusitada o período que começa com o golpe militar e chega ao segundo mandato do presidente Lula.

As charges são explicativas de situações vividas pelo nosso país e, provavelmente, não passariam pela censura do período da ditadura, tal o impacto crítico dos desenhos traçados pelo Cláudio, conhecido pelo fino humor com que desenha e trata os personagens da política brasileira. A charge é um instituto da liberdade de imprensa e da democracia, embora já tenha sido instrumento de propaganda totalitária, racista e antidemocrática. No ambiente de liberdade de expressão, é presença obrigatória, e é raro um veículo de grande ou pequena penetração que não tenha um ou mais chargistas.

Muitas vezes esses desenhos dizem muito mais do que o editorial, tal a contundência e objetividade do artista. Ou do jornalista. Ou dos dois. Afinal, o chargista é um pouco de cada coisa. É capaz de apurar uma notícia com credibilidade, como um jornalista, e transformar essa informação em uma mensagem desenhada de larga repercussão social.

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Texto originalmente publicado no Jornal do Advogado, da OAB-SP, n. 327, ano XXXIII, abr. 2008.



Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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