Busca:     


Até breve, meu querido senador vitalício!

Luciano Oliveira - Julho 2022
 


Pela voz de Ricardo Santiago - meu "caminho de Santiago" -, fui informado de que Marcos Costa Lima estava morto. Minha filha achava que ele tinha cara de Papai Noel. Tinha. Eu achava que ele tinha jeito de senador da república. E tinha. Assim eu o tratava: "Senador!" (Mas sempre fiz a ressalva de que ele deveria ser senador vitalício, assim feito um Norberto Bobbio na Itália, porque não merecia passar pela coisa baixa que é uma campanha eleitoral...) Ele me retribuía chamando-me de "Comendador". 

Era filho de Oswaldo Lima Filho, que foi o último ministro da agricultura do governo Goulart. Uma das brincadeiras que fazia quando o apresentava a alguém era dizer que ele, quando era menino e morava em Brasília, brincava de cavalinho com a "perna de pau" do presidente deposto. Ele ria como ri Papai Noel: enchendo as bochechas coradas.

Há exatos vinte anos, em 2002, assistimos juntos aqui em casa - ele em companhia de Juju, seu amor derradeiro - a final da Copa do Mundo do Japão-Coreia. O Brasil ganhou de 2 a 0 da Alemanha. Dois gols de Ronaldo - mas ambos graças a Rivaldo, um pernambucano com cara de fome que foi o melhor jogador daquele time. O jogo foi de manhãzinha cedo e preparei um café que ficou esfriando na garrafa térmica que comprei para a ocasião. A bebida foi outra...

Há anos não nos víamos. Mas alguns meses atrás nos falamos ao telefone. Achei-o cansado. Acho que atribuí o cansaço a esse mundo fatigante que nos coube ter de suportar na velhice que partilhávamos. Ele tinha 71 anos, soube pelo obituário; e eu terei 70 daqui a poucos dias.

Acho que ele era ateu. Eu sou agnóstico. Mas gostaria que Deus existisse, que São Miguel existisse, e que ele, com sua cara que também passaria pela de São Pedro, me recebesse no outro lado do Mistério dizendo: "Bem-vindo, Comendador!"

Ah, que abraço gostoso nos daríamos... e riríamos tanto!

----------

Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco

----------

Raízes do Brasil
Kafka e nossa irrealidade digital
A dialética tropical de Roberto Schwarz
Saudades de Fernando, quatro anos depois
O dia em que debati com Olavo de Carvalho





Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil

  •