Em Belém do Pará, uma singularÃssima expressão da chamada imprensa alternativa faz 20 anos e completa 400 edições. Trata-se do
Jornal Pessoal, solitariamente redigido e dirigido por
Lúcio Flávio Pinto, também colaborador constante de
Gramsci e o Brasil. A existência comercial do jornal é, ela mesma, uma saga: o jornal é vendido em algumas poucas bancas de Belém e conta com um cÃrculo reduzido, mas fiel e qualificado, de leitores. Estes últimos, por sua vez, são testemunhos privilegiados de uma voz que escreve a contra-história do Pará e da Amazônia: uma narrativa que desmente e incomoda as oligarquias locais.
Destas oligarquias, ou de uma parte delas, Lúcio Flávio tem recebido um tratamento durÃssimo: desde 1992, respondeu a 32 processos de nÃtido caráter intimidatório, e ainda hoje responde a uma boa parte deles. Trata-se de uma situação que deve preocupar a todos os democratas, ciosos, como devem ser, da liberdade de imprensa como pilar inquestionável de todo regime democrático.
Nas suas palavras, "o uso imoderado, excessivo e abusivo da justiça se transformou, no Pará, num instrumento de cerceamento ao direito constitucional de informação, que, para um jornalista consciente, é também um dever. Enredado em dezenas de incidentes processuais, que se multiplicam a partir de cada uma das 15 ações ainda em curso, perdi a liberdade, o tempo e as condições operacionais que o jornalismo exige. Há muitos anos meus fins de semana são a forja deste jornal, que costumo escrever de um só impulso, principalmente nesses dois dias, reservados ao descanso e ao lazer".
O resultado do esforço de Lúcio Flávio é um veÃculo jornalÃstico sui generis, que, vinte anos depois, mantém a mais alta credibilidade, ao narrar a cada quinze dias, com equilÃbrio e paixão, a crônica da devastação da Amazônia e a luta dos que a esta devastação se opõem.Â